poesia de inspiração angolana
Quarta-feira, 22 de Março de 2006
Microcosmos (para o João Mangericão)
Ao lado do embondeiro, pasta o meu búfalo.
Pouso, calmo, no seu corno esquerdo.
Como não sou uma buluvulu, ele não me enxota.
Assim, desfrutando da sua altivez, desloco-me com ele.
Vejo as garças.
Por vezes, salpicam-me com as humidades que levantam com os bicos.
O sol, na sua doce obliquidade, encanta o tronco do embondeiro de tons mágicos.
A brisa calma, que me chega envolta no cheiro do meu possante transportador, também me traz o aroma das mácuas.
Dos lados dos mutiatis, chega o zumbido dos mahungos.
Para lá não vou.
Aqui tenho tudo o que me basta.
Sobre o corno do búfalo, avisto todo o meu universo.