poesia de inspiração angolana
Quarta-feira, 22 de Março de 2006
MOÇÂMEDES
Amanhece o dia neste bairro...
Pelo lado do deserto a luz doce
lenta se levanta, por baixo do cirro,
espreitando-a, como se lânguida fosse...

Cidade espraiada, assim amanhecida,
aguardando em preguiça os afagos,
ansiando calma de certeza já sabida,
amante vivida, de tão doces fados...

Moça, medes teus modos, lenta,
leve, branda doçura do deserto;
morena, brincas com as paixões!

Moça, medes teus modos? Tenta,
as suaves marés estão já perto;
julgas que resistem os corações?


publicado por zé kahango às 01:18
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HORIZONTES

de Capangombe a Cha-Malundo,
que um europeu não chame
"bravas paisagens"...

é só andar, que estás sempre lá,
no chão de África,
com o céu aberto todo,
onde a tua cabeça pode alcançar
o horizonte infinito



publicado por zé kahango às 01:15
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Leba nossa
Na altiva e altaneira Leba,
no seu total esplendor,
em que da Natureza o fulgor
permitiu um certo talento,
lado a lado, serra subindo,
marcasse a terra, eternizado.



publicado por zé kahango às 01:14
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encontro

Naquela parte mais erma e distante,
longe da chitaca e do planalto,
onde a aridez da poeira secante
nos sugava a sombra em sobressalto;

Naquela longa caminhada
já os matos passados
e bissapas atravessadas,
eis que o encontro se dá:

Era um homem baixo e seco,
de caminhar errante e tropeçado;
velho homem no deserto perdido.

Sua errática vida chorava sem ver
o horizonte esplendoroso á sua frente,
- que ambos encontrámos nesse instante!



publicado por zé kahango às 01:12
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PELA TUA MÃO, MEU IRMÃO
Sim,
pela tua mão seguirei,
conduzido à Natureza
divina da tua Huíla,
que desejo também
minha seja!

Pela mão do meu irmão,
pelas brumas azuladas
molhada...

Minha alma,
inspirando as humidades
quentes dessa terra
sagrada,
eleva o rosto
para o gigantesco céu
da Chela.


publicado por zé kahango às 01:10
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houêêê...houêêê...houêêê...hou êêê...
Ao Mais Velho fomos perguntar
porque tanto chove
e o frio nos faz tiritar.

Ele muito se riu
da nossa juventude
e com os seus poucos dentes
de nós zombou,
mostrando as gengivas:

"- Que bom, que bom, que bom!"



publicado por zé kahango às 01:08
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CUNENE

De grandes nomes África se faz,
com sonoros nomes se fez grande;
no nosso peito se acolhe em paz,
enorme grandeza que se expande.

Grande água, grande coração,
grandes os Amigos dessa Terra;
seus nomes, minha musical paixão,
encanto que meu destino encerra.

Soletrando as terras da esperança,
vou pisando a memória da herança:
Amigos, como o coração me treme!

Resgatando nosso passado fugidio,
sempre menores que o grande rio:
Amigos, como a Alma me geme!



publicado por zé kahango às 00:25
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A cada manhã

A cada manhã meus olhos abrem
novos dias, novos sentimentos;
abrem meus passos nova viagem,
recordando antigos pensamentos.

Se hoje meus passos guiam,
e se já meus braços brigam,
nas velhas lutas do caminho,
o coração me grita, baixinho.

Seguindo o sentido dos dias,
dias seguidos sem sentido;
nada pouco o que sentias,
meu coração, tão comovido.

Procurando o caminho do destino,
trilho hoje a subida da montanha;
no peito levo a alma de um menino,
nenhuma jornada me será estranha.

Confiante de amigos meus encontrar,
belos e radiosos, lá no cimo da serra;
subirei à Leba, divino altar,
Huíla, Paraíso Da Terra!



publicado por zé kahango às 00:16
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memórias da mãe pátria...

memória emprestada
melhor que fingida
ou postiça

neste ofício
(ou vício)
de poeta fingidor;

só mesmo assim,
nos lembraremos, meu irmão,
de uma mesma pátria,

das brincadeiras
mesmas, no chão
de vermelha terra

onde ambos nos sujámos;
que nos oferta todos os frutos da vida,
e que sempre pronta nos acolhe,

e que como uma mãe,
com as lágrimas das suas águas sempre nos lava
de todas as dores...



publicado por zé kahango às 00:15
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Microcosmos (para o João Mangericão)
Ao lado do embondeiro, pasta o meu búfalo.
Pouso, calmo, no seu corno esquerdo.
Como não sou uma buluvulu, ele não me enxota.
Assim, desfrutando da sua altivez, desloco-me com ele.
Vejo as garças.
Por vezes, salpicam-me com as humidades que levantam com os bicos.
O sol, na sua doce obliquidade, encanta o tronco do embondeiro de tons mágicos.
A brisa calma, que me chega envolta no cheiro do meu possante transportador, também me traz o aroma das mácuas.
Dos lados dos mutiatis, chega o zumbido dos mahungos.
Para lá não vou.
Aqui tenho tudo o que me basta.
Sobre o corno do búfalo, avisto todo o meu universo.


publicado por zé kahango às 00:12
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n'ganga não sou...

não, meu irmão...

pudera eu vencer a distância,
voar sobre o mar,
sobre a praia Morena descer,
voar, voar,
sobre acácias e casuarinas,
com os seripipis voltear em folguedos

pudesse eu depois seguir
para o planalto...

pudera eu sobrevoar
essa imensa terra angolana;
sob a magia da sua doce luz,
sempre para o sul seguir,
descer para as serras
do meu amor muhuíla...

não, meu irmão,
não sou n'ganga...



publicado por zé kahango às 00:08
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n'Dele-n'Dele

anos correm, anos passam,
o que fica desta vida?
na transparência
do vidro da nossa
imagem ou coisa reflectida;
qual será a verdadeira?

perguntas que este "ocidental"
nunca a um vertical
mucubal
em equilíbrio pastoril
poderia fazer,
entre os seus plurais bois.

talvez,
se o acompanhasse,
e se com ele chegasse de noite à sua onganda,
poderia um dia compreender
o que faz um kuvale soar
as pedras n'Dele-n'Dele.

e assim,
porventura,
as indagações existencialistas
ficariam no outro hemisfério.



publicado por zé kahango às 00:05
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Esplanada da Chela
Frondosa seria a murilahonde
onde a sombra nos deleitaria
a fresca tarde em Kapangombe,
ouvindo as cascatas da serrania...


publicado por zé kahango às 00:04
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para a Zai

Voltarei um dia - me dizia,
do Humbe, bela princeza -
a meu Cunene regressaria,
nele choraria, de certeza...

"P'las terras de minha mãe,
à distante Ondjiva voltarei!"
Assim como ela eu também,
se lá for, jamais esquecerei!



publicado por zé kahango às 00:01
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para a Di

falas de Luanda
e eu te escuto,
sondando a noite,
perguntando à lua...
dizendo-te - anda!...

otchi-ila canta
num ramo de acácia...



publicado por zé kahango às 00:01
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Terça-feira, 21 de Março de 2006
CAMINHOS

Em que caminhos de homens ou de meninos,
em que savanas, em que chanas,
em que paragens, em que paisagens,
em que serras, em que matos,
em que deserto, em que estrelas,
se encontram as almas, os corações,
dos Manos Velhos, dos Amigos?

Que viagens, p'ra que destinos,
de que margens, p'ra que horizontes,
que rios temos de cruzar,
que areias temos de pisar,
que perigos temos de superar
quando o que temos de encontrar
é o peito do nosso Irmão?



publicado por zé kahango às 23:59
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CHICORONHOS

( foto de Okawa Ryuko )

'Inda co'a formosa ilha na lembrança,

pelo Bruco, subiram os teus bisavós

a serra, carregando-nos a esperança,

procurando o Futuro, para todos nós.

 

Desses bravos ainda pouco se disse:

foram colonos pobres, de alma brava;

se a História tais nobres não produzisse,

pobre a memória seria, ou lhe faltava.

 

Na amena Humpata se estabeleceram,

com o seu labor Novo Mundo iniciaram.

De Amor e Oração, seus frutos obteve;

 

Cresceu p'ro Lubango, logo em breve.

É neste povo de valorosos chicoronhos,

que está a fonte dos mais belos Sonhos!



publicado por zé kahango às 23:43
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SONHO
Num preclaro dia, sorria e sonhava;
num silêncio de fogos ao longe,
belo Pássaro azul, despertava,
me dizia: "Voemos, para Maconge!"

Assim sobre nuvens fomos, voámos,
nos extremos asas se tocando,
pelas celestes águas deslizámos,
o Sabedor a rota conduzindo.

Atlântico mar Diogo navegou
em lúcidas marés e brisa forte;
lá nos tempos de antanho desbravou
terra e céus, com a estrela da sorte.

Vão pelo aéreo sonho acicatados,
estes novos nautas, agora alados;
pelo vapor em leveza descendo,
do Cherungo, a enseada avistando.

Tendo a costa e praias sobrevoado,
rumo ao sol, no horizonte alçado;
meu companheiro tudo explicando,
pelo curso do Giraúl nos guiando.

Do Namibe quentes brisas vinham,
asas de outras formas e cores vieram;
pelo riso das águas se alegrando,
da providencial pedra bebendo.

Nas cores do alvor, um sunguiandondo;
lá do norte, bem do Caraculo
um pica-pau vem, aqui bangula.
Alto, o astro-rei, belo e redondo.

Cruzando agora o rio, que é Munhino,
buscando o fluxo do seu afluente,
com o bando cantando, contente,
rápido seguíamos p´ro destino.

Aquando já das margens íamos saindo,
logo me disse meu Amigo de viagem:
"este é bico que vem de passagem:
tal um beija-flor", o mariapindo.

Da Bibala um kinkanga chegou
(tal como alguém disse, é um cuco)
havíamos de escutar o que nos informou:
"Um pouco mais abaixo, fica o Bruco!"

Voando ao lado um sumbo - maçarico
e atrás um xinquengue - periquito;
e já Capangombe avistávamos,
à esplêndida Leba chegávamos!

Terminada a viagem, inda era dia,
duas aves, um sonho e um coração,
cantam agora idêntica canção:
a Maconge, Reino da Fantasia!


publicado por zé kahango às 23:39
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LEBA

1.

Em tempos que a Ocidental História
de África nunca guardou;
em tempos retidos na memória
dos homens que sempre ela apaixonou...

Pelo Bumbo, Quiteve, Caionda,
por altivos mucubais,
à M'Leva foram levados.


2.

rosada rocha
em paredão talhada,
sobre esplêndido manto verde;

alturas, profundas,
sobre horizontes largos, largos;

o divino silêncio
a alma escuta.



publicado por zé kahango às 23:38
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ÁFRICA
De rios e mar me fales, sem peneiras,
sei que bem podes, traz tua maré;
traz-me córregos, regatos, cheias até:
que fale a pura água de tantas maneiras...

Sabemos quando o trovão soa distante,
como tudo se interrompe nesse instante;
e p'ra que lado se volta a nossa memória:
correndo p'ro lado mais doce da História...

É a mãe África que de longe nos chama...
a mãe de todos nós, a Natureza eterna,
a Fonte das Águas, a chuva e a fogueira.

E caso estendas no deserto a tua cama,
sob o estrelado céu do estranho Iona,
lá, virão os pastores kuvale à tua beira.



publicado por zé kahango às 23:34
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