de Capangombe a Cha-Malundo,
que um europeu não chame
"bravas paisagens"...
é só andar, que estás sempre lá,
no chão de África,
com o céu aberto todo,
onde a tua cabeça pode alcançar
o horizonte infinito
Naquela parte mais erma e distante,
longe da chitaca e do planalto,
onde a aridez da poeira secante
nos sugava a sombra em sobressalto;
Naquela longa caminhada
já os matos passados
e bissapas atravessadas,
eis que o encontro se dá:
Era um homem baixo e seco,
de caminhar errante e tropeçado;
velho homem no deserto perdido.
Sua errática vida chorava sem ver
o horizonte esplendoroso á sua frente,
- que ambos encontrámos nesse instante!
De grandes nomes África se faz,
com sonoros nomes se fez grande;
no nosso peito se acolhe em paz,
enorme grandeza que se expande.
Grande água, grande coração,
grandes os Amigos dessa Terra;
seus nomes, minha musical paixão,
encanto que meu destino encerra.
Soletrando as terras da esperança,
vou pisando a memória da herança:
Amigos, como o coração me treme!
Resgatando nosso passado fugidio,
sempre menores que o grande rio:
Amigos, como a Alma me geme!
A cada manhã meus olhos abrem
novos dias, novos sentimentos;
abrem meus passos nova viagem,
recordando antigos pensamentos.
Se hoje meus passos guiam,
e se já meus braços brigam,
nas velhas lutas do caminho,
o coração me grita, baixinho.
Seguindo o sentido dos dias,
dias seguidos sem sentido;
nada pouco o que sentias,
meu coração, tão comovido.
Procurando o caminho do destino,
trilho hoje a subida da montanha;
no peito levo a alma de um menino,
nenhuma jornada me será estranha.
Confiante de amigos meus encontrar,
belos e radiosos, lá no cimo da serra;
subirei à Leba, divino altar,
Huíla, Paraíso Da Terra!
memória emprestada
melhor que fingida
ou postiça
neste ofício
(ou vício)
de poeta fingidor;
só mesmo assim,
nos lembraremos, meu irmão,
de uma mesma pátria,
das brincadeiras
mesmas, no chão
de vermelha terra
onde ambos nos sujámos;
que nos oferta todos os frutos da vida,
e que sempre pronta nos acolhe,
e que como uma mãe,
com as lágrimas das suas águas sempre nos lava
de todas as dores...
não, meu irmão...
pudera eu vencer a distância,
voar sobre o mar,
sobre a praia Morena descer,
voar, voar,
sobre acácias e casuarinas,
com os seripipis voltear em folguedos
pudesse eu depois seguir
para o planalto...
pudera eu sobrevoar
essa imensa terra angolana;
sob a magia da sua doce luz,
sempre para o sul seguir,
descer para as serras
do meu amor muhuíla...
não, meu irmão,
não sou n'ganga...
anos correm, anos passam,
o que fica desta vida?
na transparência
do vidro da nossa
imagem ou coisa reflectida;
qual será a verdadeira?
perguntas que este "ocidental"
nunca a um vertical
mucubal
em equilíbrio pastoril
poderia fazer,
entre os seus plurais bois.
talvez,
se o acompanhasse,
e se com ele chegasse de noite à sua onganda,
poderia um dia compreender
o que faz um kuvale soar
as pedras n'Dele-n'Dele.
e assim,
porventura,
as indagações existencialistas
ficariam no outro hemisfério.
Voltarei um dia - me dizia,
do Humbe, bela princeza -
a meu Cunene regressaria,
nele choraria, de certeza...
"P'las terras de minha mãe,
à distante Ondjiva voltarei!"
Assim como ela eu também,
se lá for, jamais esquecerei!
falas de Luanda
e eu te escuto,
sondando a noite,
perguntando à lua...
dizendo-te - anda!...
otchi-ila canta
num ramo de acácia...
Em que caminhos de homens ou de meninos,
em que savanas, em que chanas,
em que paragens, em que paisagens,
em que serras, em que matos,
em que deserto, em que estrelas,
se encontram as almas, os corações,
dos Manos Velhos, dos Amigos?
Que viagens, p'ra que destinos,
de que margens, p'ra que horizontes,
que rios temos de cruzar,
que areias temos de pisar,
que perigos temos de superar
quando o que temos de encontrar
é o peito do nosso Irmão?
( foto de Okawa Ryuko )
'Inda co'a formosa ilha na lembrança,
pelo Bruco, subiram os teus bisavós
a serra, carregando-nos a esperança,
procurando o Futuro, para todos nós.
Desses bravos ainda pouco se disse:
foram colonos pobres, de alma brava;
se a História tais nobres não produzisse,
pobre a memória seria, ou lhe faltava.
Na amena Humpata se estabeleceram,
com o seu labor Novo Mundo iniciaram.
De Amor e Oração, seus frutos obteve;
Cresceu p'ro Lubango, logo em breve.
É neste povo de valorosos chicoronhos,
que está a fonte dos mais belos Sonhos!
1.
Em tempos que a Ocidental História
de África nunca guardou;
em tempos retidos na memória
dos homens que sempre ela apaixonou...
Pelo Bumbo, Quiteve, Caionda,
por altivos mucubais,
à M'Leva foram levados.
2.
rosada rocha
em paredão talhada,
sobre esplêndido manto verde;
alturas, profundas,
sobre horizontes largos, largos;
o divino silêncio
a alma escuta.