Rafael, meu filho,
vem; das celestes paragens desce
(para onde há vinte anos emigraste).
Vem, pela mão de um anjo,
desce à nossa chitaca,
vem nela passear (- ouve o riso do teu mano...)!
Vem, de mãos dadas
passaremos a Laplace
e verás de tua mãe iluminar-se a face!
Vem, libertaremos da saudade os ímpetos,
descobriremos novos aromas nos eucaliptos,
contemplaremos a frescura da cascata
- esta é a terra dos avós, a Humpata!
Vem, Rafael, meu filho;
leva-me nas tuas asas para o Iona,
fala-me das outras divinas cores
que conheceste em todos esses anos de mim distante;
apaga-me esse apagado tempo em que tão árido fiquei,
como esse deserto...
Olha, meu Amor,
aquela curva do Cunene,
bela e solene,
à nossa espera: vamos apagar a solidão.
Estão lá, na mesma margem,
duas rochas quase planas, como lajes,
onde podemos ficar a olhar o carmim deslumbrante do ocaso.
Fica um pouco mais comigo neste dia,
esperando aquele em que juntos para sempre estaremos.