poesia de inspiração angolana
Quarta-feira, 22 de Março de 2006
do Bimbe ao Namibe
Dos férteis regadios da Humpata,
pela manhã levantei vôo da chitaca;
do alto divisando a geometria dos valados
sobrevoei o planalto de contornos ondulados.
Chegado à linda Leba, ninho de líricas águias,
onde o meu Irmão Valério erigiu sua Pousada,
meu breve olhar galgou o paredão róseo,
degrau de gigantes, pela serra abaixo.
Seguindo o serpentear do Munhino,
cada vez mais clara se tornava a aridez;
ao longe, avistava-se o azulado horizonte marinho.
Com a baía de Moçâmedes pelo poente,
continuei rumando ao sul, para o belo deserto.
É neste oásis espiritual que se admira a admirável,
tão paradigmática quanto a estranha dualidade humana:
a welwitchia, medrando teimosa na maior secura.
Com duas folhas apenas (como homem e mulher),
lentamente crescendo e sempre se afastando,
tocando-se quando se enrolam, às vezes nunca na vida,
um drama inteiro, sob a doce luz oblíqua na areia fina.
Mais longe, o grande Cunene entre gargantas rochosas.
Nas distantes monumentais dunas do Namibe, as arestas de areias vivas,
os ocres quentes,
o Silêncio Divino.