A caminho do planalto
ao cair da noite quente...
...longas tranças pelos meus dedos deslizaram
sobre a pele de seda de uns ombros
meus lábios pousaram...
No Cuangar subi ao planalto...
os que brandiram a zagaia,
os alegres,
os de serra-abaixo,
os kuvale,
em Capangombe pastam suas manadas
para que lhe não fugisse
a minha alma de guelengue
na doce calma de Quilengues
um inocente olhar tanto me disse
Para trás ficara o Viriambundo,
seguia para lá da Cahama,
rumara ao Sul procurando
a sua princesa cuanhama.
O Cunene atravessara,
na margem certa estava;
os embondeiros assinalavam
o que para a vida inteira não chegava.
Gastos os nonkakos,
nas pedras e secas mulolas,
eis que lhe surgiu, como miragem.
Foi forte visão, contrastada,
impacto brutal, choque solar.
Tomou-se-lhe de amores, o meu amigo
- perdeu-se, ou encontrou-se...
Ah, destino da tristeza:
nos braços de ébano se acabar,
nos lábios do maboque o sabor,
da Cuanhama Princesa.
Ah, amigos meus! A paixão me prende...
aos lábios dessa Muíla, desde esse dia.
Presos meus olhos aos seus encantos,
à espera do seu olhar
sangra-me o peito na demora
de saber o seu sabor...
Do oriental setentrião,
do lendário Gengis Cão,
veio em perdida emigração.
Atravessados vales, subidas serras,
escalados montes, achadas as fontes,
encontrou as prometidas terras.
Aqui um povo encontra seu destino,
sua paz, seu sorriso de menino.
Em remotos genes, a eterna Alma
que em África sempre se renova.
conheces o cheiro dos mutiatis
quando a noite cai sobre o mato
e no seu mistério estás em casa
Orelhas de elefante no penteado,
logo do Cunene desçam as águas
seguirás para Nameculungo.
Verás que não perdes a festa do tchindere.
Num sereno chão que germina,
numa solidão de quem só o imagina,
um povo curte suas peles,
e de suaves argilas se enfeita.
Não longe de Epupa,
onde as águas troam
em apertada garganta,
no teu kimbo te vi,
em tons de ocre,
irmã das pedras.
Há batuque em Ondjiva.
São as mulheres guerreiras.
Se não as vês da picada,
podem estar atrás dos embondeiros.
Segue o som dos n'gomas,
cada vez mais forte,
já estamos perto.
Esta é a terra das grandes batalhas.
Tão árida que o sangue não empapou.
Por isso são vermelhos os panos.
Onde houve morte tem de haver nova vida.
Por isso aqui têm de estar as mulheres.
E por isso as suas cabeças se tingem de vermelho.
E não pára o batuque.
Mãe dos pastores,
do deserto solene a altivez
levas em teu plácido rosto.
Vais segura da eternidade,
serena como os bois que guardas,
como ainda os segredos do nonpeke.
Gioconda do Iona
chamar-te-iam os guardiões dos ateliês
se para tanto se despissem
de todos os setentrionais atavios
e apenas ao teu pano de toucado
se ativessem.
Mulher Angolana
que teus filhos entregas
à Terra imensa -
como teus lábios
de tenros talos sequiosa
de pèzinhos dos omonas -
que rápidos aprenderão
em correrias pelo seu chão
a trepar aos paus sem medo,
a matar a fome com goiabas...
Mulher Angolana
ainda teu olhar é de menina,
tens voz de vivida calma
e o olhar profundo e distante.
Ao pé de ti
o meu coração se encosta,
sente bater teus passos quentes,
certo de que sempre me acompanhas...